[ENTREVISTA] Alex Francisco, "A Visita"

Fala galerinha, cês tão bem? Então, hoje eu vim todo feliz, serelepe pimpão para trazer pra vocês a entrevista com o Alex Francisco, parceiro e autor do incrível "A Visita" (quem te resenha em vídeo, em texto e ainda teve promoção aqui no blog). 

Pra quem não viu a resenha (tá esperando o que? Clica Aqui agora!), bom, saiba que o livro é incrível e o autor super simpático e atencioso com a nossa equipe. Claro que, quando surgiu a proposta da entrevista, topamos na hora. Acontece que ela ia rolar na Bienal do Livro, mas advinha quem trocamos o horário do evento do Alex? Pois é... culpa nossa :(

Mas agora o Alex respondeu todas as nossas dúvidas e ainda fez revelações em primeira mão pra gente (chupa concorrência). Confiram:
- Defina "A Visita": um drama romântico ou um romance dramático?
Não gosto muito de categorizar "A Visita", mas acredito que é um romance dramático, pois todo o enredo está ligado ao envolvimento amoroso dos protagonistas. É por conta dessa relação homoafetiva entre Dalmo e Tales que os demais personagens se movimentam na história. Acredito que o diferencial de "A Visita" é como essa história de amor é contada, ou seja, temos um casal que se reencontra no presente, lembra do passado, descobre o que de fato aconteceu nesse passado e, a partir disso, redesenha seu futuro, se é que isso é possível dados os fatos.

- Da onde surgiu a ideia para um romance homossexual que é apresentado ao leitor/espectador de dentro de uma cela?
Como o texto foi pensado primeiramente para o teatro, a ideia era centrar a história em um único cenário, a cela. A partir daí, os flashbacks se desdobravam dentro da própria cela, como se Dalmo e Tales enxergassem ou revivessem sua história ali, naquele lugar incomum para o amor deles. O confinamento sempre me pareceu muito interessante do ponto de vista dramatúrgico, pois os envolvidos são colocados em conflito o tempo todo. "A Visita" ainda bebeu da fonte do cinema alemão do anos 1970, quando os personagens colocavam seus sentimentos para fora por meio das palavras. Eles não só sentiam, eles diziam. Então, imagine dizer tudo estando confinado em uma cela?

- Qual foi a cena mais difícil de escrever?
Não houve uma cena mais difícil de ser escrita, mas duas delas me emocionaram bastante. A primeira, foi o conselho final dado por Rosana a Tales. Foi a última fala que escrevi do livro, que já estava pronto para ir para a gráfica. Durante muito tempo a voz da Rosana ecoava em minha mente querendo falar algo, dar um ultimato no Tales, na vida, no mundo. Pedia a editora que esperasse um pouco, coloquei esse desabafo da Rosana e a voz dela partiu feliz de perto de mim (rs!). A outra cena é a final. Escrevo com a ideia do que quero para a última cena, mas ela só me materializa no ato da escrita e sou surpreendido pelo que acontece, assim como quem lê. Gostei do resultado.

- Você se baseou em alguém para criar os personagens? Especialmente Rosana que é tão iconicamente exagerada.
"A Visita" é ficção, mas bebe da vida real. Há uma colagem, uma composição para cada personagem. Dalmo representa os muitos homens gays que vivem sua sexualidade de maneira discreta. Tales se aproxima do jovem que hoje sabe o que é ser gay, mas ainda não entende sua importância social (se é que ela é necessária, e o livro discute isso). Inácio foi inspirado em uma mulher, que não aceitava o filho, e a situação da mentira (quando Tales diz ao pai que Dalmo é um amigo) aconteceu comigo. Eu fui o Dalmo, colocado como o "amigo" diante da sogra. Fernando foi inspirado em um amigo meu que era executivo em um banco, mas não podia se assumir, por medo de perder o emprego. A dramaturgia potencializou isso e o levou para a drag queen Nina Shine, um personagem que gosto bastante. Já o Cadu teve uma inspiração plástica. Ele foi concebido com o visual sexy do Netto Soares, o dançarino da Wanessa.

- Por que escolher habitar a história no ano de 2001?
Foi um ano de transições para o mundo: a chegada de um novo século, a internet ganhando espaço, o mercado gay se reconhecendo e tomando forma, uma nova revolução sexual despertada pela série "Queer as Folk" nos EUA e o ataque terrorista de 11 de setembro. Foi o momento em que o mundo precisou se repensar. Se as pessoas começam a se repensar, Dalmo e Tales também. E essa metalinguagem que leva Tales para o World Trade Center não é gratuita, pois era no momento em que esse jovem precisava ser tirado da zona de conforto, entrar em crise, se chocar com a vida. Não repensamos no sentido da vida cada vez que alguém próximo morre? Tales precisava desse abalo físico, desse terror. 2001 também é o ano da boa música, presente em nossa trilha sonora com Kylie Minogue, Alicia Keys, Coldplay, Muse, entre outros, em um trabalho de pesquisa musical primoroso feito pelo produtor musical Renan Alves. Segue o link da playlist:http://migre.me/eMAX4.

- Como foi o processo de publicação? Desde o momento que recebeu a notícia de que seria publicado até ter o livro em mãos...
A ideia era que "A Visita" chegasse a um público que, posteriormente, ficaria interessado em ver a montagem e, além disso, tivesse uma interação real com o texto. Ou seja, por ser um texto de teatro, em algum momento, ao ler, ele pronunciaria as falas e se apropriaria daquilo fazendo as vezes do ator. Procuramos por três editoras e fechamos uma parceira com a All Print. Todo o processo de arte e divulgação ficou a cargo de uma equipe que trabalha comigo em projetos pessoais. Quando recebi o primeiro exemplar de "A Visita" fiquei, de fato, sem palavras.

- Por que na capa temos duas mãos unidas e uma delas tem cortes no pulso, já que nenhum dos dois pratica automutilação?
A capa trabalha com signos que representam Dalmo e Tales. O braço com os cortes são para remeter o leitor ao sofrimento dos personagens na cela, ao atentado contra a vida, ao desespero. Logo, esse mesmo braço permite uma dupla interpretação: aquele é o braço de Dalmo ou Tales. Há uma sutileza no toque das mãos, que contrasta com aquela forma opressora de estar algemado. E, por fim, mãos diferentes unidas e atadas: o amor em meio a angústia. Foi um belo trabalho feito por Pedro Carvalho (modelo), Marcus Lyra (semioticista), Maya Quirino (diretora de arte) e Renan Alves (fotógrafo e design).

- Você chegou a cogitar um final diferente para o livro ou talvez escrevê-lo de uma forma diferente da de peça?
Vou revelar a vocês: "A Visita" foi construída com dois finais. O primeiro, é o que está no livro, o oficial. O segundo, está trancado a sete chaves e é mais desestabilizador que o primeiro. As pistas desse final alternativo estão claras em toda a história.

- Acredita que conseguiu o resultado que queria ou mudaria algo na história?
Sim, o resultado foi bastante positivo. O que me deixou mais feliz foi saber que as pessoas receberam o livro de braços abertos, e não só o público gay, mas também o público heterossexual, que se interessou pela história de amor que conta o livro. Saber que as pessoas, talvez, quebraram algumas de suas barreiras para ler "A Visita" é uma grande prova de que o respeitar as diferenças é possível e que o livro deu certo.

- Algum novo projeto? Se sim, o que pode nos contar?
Sim, já estou trabalhando em um novo projeto que deve ser anunciado em breve.

- E pra finalizar, gostaria que você convidasse a galera à ler "A Visita" e desse (mais) motivos para eles lerem.
Galera do Connect Qu4tro espero que vocês se emocionem com "A Visita", que conta a história de um casal gay e mistura emoção, sensualidade, humor, música, mistério e muitas reviravoltas. Faço o convite para que não apenas leiam, mas que entrem na vida dos personagens e encontrem neles coisas do seu cotidiano, da sua vida ou da de conhecidos. Torço para que tenham uma experiência única!